Cerca de 300 mil romeiros visitaram Juazeiro desde o último dia 29, conforme dados da Igreja Católica
Juazeiro do Norte. Uma água misteriosa chama pela fé do romeiro. Na cacimba ao fundo da Casa dos Milagres, os peregrinos não param de chegar para beber um pouco do líquido que consideram sagrado. Cada gota é uma preciosidade que pode curar muitos males, para os que acreditam, como a romeira de Alagoas Ivonete Roseno dos Santos, de 69 anos. Além de beber bastante água do poço, num pequeno copo que abastece a coletividade, enche duas garrafinhas para tomar como "remédio" para a cura da incômoda gastrite.
Ela diz ter visto no fundo do poço misterioso que poderia ficar curada. "É só acreditar", afirma. Entre milhares de romeiros, ela também se despede da cidade na terceira maior romaria do ano. Pede a graça de Nossa Senhora das Candeias para voltar à terra que considera abençoada.
Fogos e cânticos anunciam o fim da Romaria das Candeias. Os romeiros do "Padim" chegam à Basílica de Nossa Senhora das Dores para a celebração da despedida e bênção dos objetos, antes mesmo da procissão, encerrada na noite de ontem, na praça do Romeiro. A estimativa da igreja, mesmo com o grande número de fiéis que têm ido a Juazeiro nos últimos meses, é que a cidade tenha recebido, desde o último dia 29 de janeiro, cerca de 300 mil romeiros. Essa realidade representa, ao longo dos anos, um crescimento da maior romaria da cidade, que está atrás das duas maiores, a de Nossa Senhora das Dores, padroeira de Juazeiro do Norte, e a Finados.
Presença
O registro na sala de informações da Basílica, anunciado no final de celebração da despedida pelo bispo dom Fernando Panico, confirma a grande presença dos romeiros de Alagoas, nessa festa. Foram mais de 12 mil romeiros, o que representa, segundo a Igreja, cerca de 10% do total. Em segundo lugar, ficaram os devotos pernambucanos, com mais de 6 mil pessoas e, em terceiro, o Rio Grande do Norte, com mais de 3 mil.
Os romeiros se emocionam com a bênção dos objetos, depois dos cânticos e o "chamado de Nossa Senhora", partem em mais uma viagem com a fé de um dia voltar. É o caso do agricultor Waldemar Martins da Silva, de 63 anos. Ele foi a Juazeiro pela primeira vez, para pagar a graça alcançada de ter encontrado o seu celular no meio do roçado.
"Quando cheguei do serviço, fiz a promessa ao meu Padim e, no outro dia, fui direto ao local e encontrei", afirma. Antes mesmo de partir de volta ao Município de Chã Grande, no Pernambuco, foi tomar água do poço, na Casa dos Milagres.
O cacimbão fundo e escuro, que de cima não dá para ver o fim, tem o que pode-se chamar praticamente de um guardião durante as romarias. É Francisco Félix, que desde os 11 anos de idade puxa água numa lata de zinco para matar a sede de fé dos fiéis do Padre Cícero. "Acredito que essa água é benta e milagrosa", diz ele. Hoje, aos 36 anos, diz que a cada romaria é maior o número de romeiros.
Ontem, não teve sossego. Puxou água das 7h às 11h sem parar, às custas da boa vontade de quem pudesse colocar uns trocados no prato, em cima do "poço misterioso". Mesmo com o esquema de segurança organizado, com 220 homens, e com reforço de policiais em locais de maior movimentação, eram comuns as reclamações, mesmo nas ruas, dos pequenos furtos.